quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Isso não é jornalismo. Um desabafo!

Estava em casa mais uma vez no horário que o programa da TV Aratu, Na Mira, é transmitido e mais uma vez me deparei com uma reportagem lamentável do jornalismo baiano. Geralmente eu fico indignada quando vejo repórteres (jornalistas ou não) cobrindo os casos de pedofilia.

Por si só a notícia de uma violência como esta já causa dor e revolta em quem está assistindo, mas o absurdo que o programa Na Mira cometeu e comete quase que diariamente vai além de dar a notícia. O programa segue a polícia, entrevista as pessoas da família, às vezes o acusado e veja você, a vítima.

Hoje (15/09) o repórter estava entrevistando uma garota deficiente mental que tinha sido abusada pelo próprio irmão. A menina que tinha dificuldade para falar ia balbuciando as palavras e ele ia interrogando sem a menor compaixão, aproveitando-se do desespero da família que não sabe que não é obrigada a ficar falando detalhes do episódio, a um programa de TV, mas apenas ao delegado e aos psicólogos que atenderão a criança.

Ele chegou ao cúmulo de perguntar: “Ele colocou o pinto aonde?”, aliás, acho que ele aprendeu a pedagogia da entrevista com a atual apresentadora do programa, Analice Sales. Outra que não tinha o menor respeito, nem pela família e nem pelas crianças.

Por ignorância, as pessoas acham que o jornalista pode chegar à sua casa, perguntar o que quiser e que elas, coitadas, são obrigadas a falar abertamente, expondo a todos. Isso não é jornalismo, isso é abusar da ignorância alheia, ou será que a gente vê por aí a alta sociedade falando de estupros na família abertamente? Não, pois a high society sabe que quem deve resolver, acusar, interrogar e prender é a polícia, não o repórter!

E o Ministério Público da Bahia, também não acha um abuso essa exposição desnecessária da criança, que se vê, obrigada a responder e a lembrar do fato, ali, no meio de tanta gente, de tantos desconhecidos? Eu não sei do que tenho mais raiva: do acusado que é responsável pelo início do fato, do repórter que se acha psicólogo de botequim, ou do Ministério Público, que vê tudo e depois muda de canal.

Vale lembrar que até outro dia o programa fazia uma campanha contra a pedofilia, sou totalmente a favor da campanha, mas sou contra a invasão, sem nenhum preparo, de um problema que envolve crianças. Denunciar o fato e falar das investigações é uma coisa, entrevistar crianças da forma que os repórteres fazem é Abuso. Jornalismo é outra coisa.

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